Creio que não há sensação pior do que a incapacidade de não poder fazer nada perante a fragilidade do outro, mas esse argumento me mostra o quão egoísta eu sou. A dor que não me pertence será sempre improporcionalmente maior que a minha sensibilidade e compaixão, pois a minha angústia pelo sofrimento humano se reduz a uma inércia interrompida por um lazer qualquer, mas que perduram em um incomodo eterno.
Entre as selfies matinais e as badaladas produções fotográficas das redes, me deparo com a imagem que desconstrói os dados e me apresenta um rosto entre tantos que nunca chegarei a ver. E as conclusões se tornam turvas e fragmentadas, não consigo ver poesia em canção, nem me sinto amparada por parábolas.
A morte do Aylan Kurdi, a criança síria encontrada afogada na Turquia, revela que adormecemos quando não temos nada diante de nossos olhos. A Guerra Civil Síria desola o país desde 2011, mas só agora despertamos. A imagem rompe com o silêncio e grita por todos que alimentam a esperança de atravessar a fronteira.
Não sei se são os questionamentos éticos que incomodam ou se é o desconforto que fere [superficialmente] a nossa rotina. Sei que algumas crianças terão lindos álbuns fotográficos, outras terão apenas um retrato da tentativa de sobrevivência.
Não temos que passar por uma guerra para ter sensibilidade, mas somos parte de cada santuário vivo que desfalece em algum lugar, porém não temos tempo pra pensar na sacralidade da vida, estamos construindo a nossa, temos que ser felizes e escrever o sucesso com cifrão (suce$$o).
Perdão, não posso me alongar em palavras que não repousam em nenhum coração, temos novas notícias para acompanhar, temos novos fatos para mostrar que a nossa vida está segura e erguer as mãos por estarmos vivos. Temos que fazer o nosso álbum feliz!