A lição de casa

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Existem coisas que demoramos a aprender, não importam quantas lições de casa já fizemos ou se conseguimos ganhar os três pontos decorando a oração da Salve Rainha na catequese, alguns aprendizados custam tempo. 
Eu sempre carreguei a certeza de que a minha sensibilidade fosse uma fraqueza, me deixando vulnerável a todo tipo de mágoa e ressentimento.   
Eu tateei meus defeitos e me fiz refém da minha própria insegurança.  Guardei em mim lembranças de amizades já apagadaem outros corações e me silenciei diante de mentiras bem estruturadas para determinadas situações.   
Chorei, chorei quando não consegui, chorei quando fui ferida e quando feri alguém.   
Ouvi respeitosamente a desagradável grosseria de quem não sabia soletrar nem o meu nome.  
Confiei uma, duas, várias vezes em quem se ocupou de sarcasmos na mesma esquina dedicada aos abraços acolhedores.   
Culpei-me pelos momentos que não fui tão paciente com quem optou pela indiferença em forma de palavras bem pontuadas e acompanhadas de um sorriso satisfatório.   
Mas cada um desses momentos se tornou a mais bela ferramenta e repertório para a construção do meu ser.  
Descobri a graça de observar as pessoas além do certo e do errado, encontrando a subjetividade que contam os seus olhos.   
Ensinou-me que a dureza das palavras revelam medos escondidos nos escombros da insegurança. 
Mostrou-me que existem conflitos sentimentais que serão superados com o tempo e a verdade, independente de quantos conselhos você tenha ouvido ou dos cursos de formação que tenha participado.   
Mostrou-me que quem confia não perde, se entrega.   
Descobri que as minhas lágrimas são regadores no terreno do meu coração e me fez entender que a sensibilidade que me fragiliza é a mesma que se faz ponte para que eu conheça a outra margem do rio.   
Aprendi que existem aproximações que são apenas um calculo de perguntas para me tornar tema de  algum grupo de conversa que eu provavelmente nunca participaria.   
Aprendi que cada um dos meus erros não são facas afiadas para me ferir, são adubos que fertilizam a minha trajetória.   
Descobri que algumas marcas são essenciais para descobrirmos novas estradas, sem que apaguemos a nossa jornada já percorrida. 
Mostrou-me que existe beleza no labirinto reto do meu coração, pois todos os atalhos me levam para a estrada de fidelidade ao meu coração.  
Descobri que existem professores que ensinam mais que as letras, devolvem a essência das palavras e reapresentam as virtudes que eu conhecia apenas como limite. Não testam apenas o conhecimento adquirido, mas se alegram com a emoção que colocamos no processo de aprendizagem. Corrigem-nos não apenas para acertar, mas para nos aproximar da verdade que queremos dizer. Eu encontrei a graça de aprender com uma professora que olhou a minha sensibilidade como possibilidade, recolocando cada experiência como essência da construção do meu repertório. Parece algo simples, mas é maravilhoso perceber que a verdadeira lição de casa era me redescobrir. 

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