Quando as palavras não dizem nada, são apenas letras de letrados bem intencionados em formular uma ideia. Ninguém diz nada, mas todos falam.  
Os emoticons me poupam a emoção das palavras que eu não saberia descrever, conhecer novas pessoas não é mais conhecer novas pessoas, é saber o seu seriado preferido, gostos muito bem organizados  como pastas de músicas, embora ainda não saiba diferenciar o jazz do blues.  
Vamos lá, tente! 
Pode ser que alguém apresente uma centelha de verdades imprecisas e nada elaboradas, apenas seja verdadeiro, apenas tenha alma no que seus lábios dizem e não no que revelam os testes feitos no facebook. Testes que evidenciam o quanto procuramos por respostas, queremos que alguém nos diga o que não conseguimos encontrar sozinhos ou confirme o que vemos em nós. 
Tantos posts, mas nenhuma leitura. Tantas fotografias, mas nenhuma imagem autêntica, e começo a acreditar que elas realmente roubam as nossas almas.  
Cansei! 
A minha revolta é exposta na mesma fonte que me aprisiona,  mas também me liberta, isso é essencialmente ridículo e cíclico.  
Tento amenizar o barulho, escolho o som que silencia tudo em mim, música para acalmar os tormentos que não se estouram prazerosamente como o plástico bolha. Canções de um coração que me desconhece, todos se desconhecem.  
Eu me recuo. 
Procuro por vida que respire intensamente, mas só encontro sobreviventes esperando o próximo feriado para limpar o ar dos pulmões.  
Listas, passos, dicas, instruções, todos parecem especialistas em algo, você só acompanha tudo sem entender tanta arbitrariedade para abrir um pote de balas.  
Cada um cuida para manter a sua galeria perfeitamente bela e cheia de visitações, enquanto você procura sabão em pó para limpar a desordem, descobrindo que é essa a razão de todo o sucesso da Marie Kondo, tarefas simples se tornam complicadas e complexas, esquecemos que somos analógicos e não digitais. 
Tenho o meu próprio acervo de pinturas rupestres, as obras de ontem já foram inclusas, tudo fica velho rapidamente, a ciência não consegue perceber que a idade das coisas se dá no momento em que ela começa a morrer na memória, quando você atualiza o feed de notícias.  
A música ainda continua. Vozes não familiares me descrevem em canções, enquanto quem está perto tenta decifrar códigos para compreender o que o meu silêncio diz. 
Meus pensamentos não se tranquilizam, quem sabe esteja esperando uma nova catástrofe para me debulhar em lágrimas e ver que tudo está perfeitamente bem, assim como informa a janela falante que se abriga em todos os lares, embora ela se pareça a verdadeira dona do lar. 
Deixei de guardar os papeis de bala que ganhava na escola, passei a colecionar os crachás dos retiros que participei, hoje coleciono as minhas próprias memórias. 
No final tudo se transforma em uma bagunça de sentimentos, mas pode ser melhor assim, não os colocarei em caixas organizadoras, nem os classificarei.  
Me esconderei enquanto todos não dizem nada, me chamem quando começar.  
Meu fone quebrou, apaguei todas as músicas do celular, mas elas continuam cantando enquanto ninguém diz nada, apenas falam.